Quem lê / Who's reading

terça-feira, 25 de março de 2014

Pelas páginas de… De negro vestida, João Paulo Videira

Deixo-vos aqui dois excertos do livro que acabei de ler: De negro vestida, de João Paulo Videira, um escritor também das andanças da escrita na blogoesfera. Convido-vos a descobrir este seu romance, e as personagens que poderão, algumas delas, sentar-se ao nosso lado, tal como alguns pedaços de reflexão que certamente ajudarão a conhecer um pouco mais de nós mesmos.


“Habitam em nós pessoas diversas. Por vezes vivemo-las em simultâneo, aceitamos as contradições dos atos que decorrem de tal coabitação. Outras vezes, envolvemo-nos de tal forma e damos tanta preponderância a uma existência que as outras se apagam. Há mesmo pessoas que julgam ser só uma, una, indivisível e coerente. Depois, pela conjugação de circunstâncias inesperadas, pela exigência de termos de construir respostas às solicitações da vida, emerge o desconhecido, o oculto inquilino da nossa alma. E surpreende-nos. Ou não. Alguns de nós vivem um existência pressentindo outras. Outros, nem desconfiam que são capazes de sair de si para si.”

“Aprendereis, se quiserdes, que não há existências boas nem más, não há vidas vãs e não há mortes em vão. Tudo se conjuga em pequenos sentidos num sentido mais lato e global.”

segunda-feira, 17 de março de 2014

Mais uma segunda-feira

A velocidade impele a multidão, mas algo a abranda ao mesmo tempo...


Foto: Mo Riza

Mais uma segunda-feira.
Espero sentada nos mesmos bancos de todas as segundas-feiras.
Alguns rostos também são de todas as segundas-feiras, mas não os conheço.
A carruagem chega e pára, para me levar. A mim e aos outros rostos.
Ainda estou meia adormecida, saio por um pouco do mundo que sempre me povoa os pensamentos (ou os atormenta?) e olho à volta.
Também os outros rostos estão adormecidos.
À minha frente, um rosto lê o jornal, outro um livro, ambos adormecidos.
Ao lado, um rosto ouve música, adormecido.
Na ponta da carruagem, alguém se entretém com o telemóvel. Adormecido também.
Outros rostos apenas fixam um ponto no nada, adormecido também, o ponto, talvez.
A carruagem pára, meia multidão sai, divide-se em três, formando três pequenas multidões. A minha multidão volta a dividir-se, seguem alguns, eu saio já aqui. As cancelas abrem-se, também adormecidas me parecem.
A agora mais pequena multidão caminha, adormecida, difere na velocidade que a impele. Difere na resignação que a abranda.
Sigo também eu, ainda meio adormecida. Tenho tanto medo de me deixar adormecer mais…

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Este conto foi publicado originalmente no Blog Pense fora da caixa, ao qual pode aceder aqui.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Pelas páginas de… Cancioneiro das lágrimas, Daniel Cândido da Silva

Já conhecia a escrita de Daniel Cândido da Silva, do seu blog que já sigo e acompanho há algum tempo.
Tive entretanto o prazer de adquirir o seu “Cancioneiro das lágrimas”, o seu livro de poesia.
Deixo-vos aqui dois dos poemas  que marquei:

“O teu poço

Porque esperas aplausos se
Dentro de ti não está ninguém?
As efémeras ovações das festas
Não te abraçam nos momentos sós,
Nem o ruído das mensagens
Te alenta em noite de agonia

Aos amigos, aqueles quue,
Não são número, à graça de
Os teres, e quanto a ti,
É sempre no teu próprio poço
Que encontrarás o espelho
Da lua, que te fará emergir
Da mais longa solidão…”

“Ondas

Lindo o mar calmo
E os lagos tranquilos,
Mas nem por isso
Desdenhes do
Movimento das ondas
Que te parecem engolir

Foi pela irrequietude
Com que serpenteavam
Em contínuo fluxo,
Que chegasse
À outra margem…”
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