Quem lê / Who's reading

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Memórias doces / Sweet memories


Vou partilhar convosco uma memória de infância.
É uma memória doce, mas, mais que tudo, fofa como uma nuvem.
Era uma guloseima que apreciava muito, havia algo de mágico naquele ritual de pegar naquela preciosidade pela base da bolacha, e trincar a fina camada de chocolate que envolvia a tal nuvem. Então uma explosão de pequenos e finos pedacinhos de chocolate com chantilly acontecia.
Talvez alguns já tenham adivinhado do que falo… Pois é, falo das bombocas.
E agora me lembro de outro pequeno doce, este mesmo pequeno. Bolinhas brancas envoltas em barulhentos papéis vermelhos, assim eram os flocos de neve.
Ainda existem estes dois doces, mas já não têm o mesmo sabor de quando eu era criança…
Será que foram eles que mudaram, ou será que fui eu…?
E vocês, têm uma recordação doce da infância?

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I’ll share a childhood memory with you.
It’s a sweet memory, but, above anything else, a memory fluffy as a cloud.
It was a candy I enjoyed very much, there was something magical about that ritual: holding that precious on the cookie, and bite the tiny layer of chocolate around that cloud. And then, an explosion of chantily would happen.
Maybe some have guessed what I’m talking about… Yes: “bombocas”.
And now I remember another little sweet, a really small one. White spheres wrapped in red noisy paper, so were the “snowflake” candy.
These two sweets are still around, but they no longer have the same taste of when I was a kid...
Were they the ones which changed, or was that me...?
And what about you, do you have a sweet memory from your childhood?

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

As estradas do meu país

As estradas do meu país são todas iguais. Há aquelas que têm o alcatrão mais gasto que outras, culpa da cor da autarquia, que é diferente da do município - segundo diz quem por lá passa.

Há aquelas de alcatrão mais uniforme, com mais faixas, que permite dar vazão ao trânsito. Nessas vai diferindo o grau de proibitividade em passar nos pórticos de entrada.

Algumas inacabadas. Por mau planeamento. Algumas por planeamento pessoal.

Mas são todas iguais.

E são cada vez mais estreitas. Cabem lá cada vez menos sonhos. 

Eu caibo lá cada vez menos.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Dementors



Gostam dos livros da saga “Harry Potter”? Bom, eu gosto. Uma escrita assim sabe bem, por vezes. Ser transportada a um mundo diferente, em que a magia ainda existe, imaginar que ela existe aqui mesmo ao meu lado, até na plataforma do comboio, naquela que eu não vejo - que a magia existe, só que eu não a consigo ver. Se assim fosse, era triste, talvez, mas a ideia não deixa de exercer algum fascínio.
Depois, temos o leque de personagens; identificamo-nos mais com uma ou com outra, e, apesar de serem personagens de um mundo mágico, não deixamos de as conhecer, aqui, no Mundo dos Muggles.
Hoje não vou falar sobre os heróis, mas antes sobre os vilões.
Fiz uma vez uma brincadeira, de encontrar personagens dos livros em algumas pessoas que conheço. E sim, havia quem pudesse ser o vilão mais óbvio, Aquele Cujo Nome Não Não Pode Ser Pronunciado. Mas havia outros vilões que surgiam, os Dementors.
Os Dementors são guardas de Azkaban, a prisão do mundo mágico. A sua arma é o seu dom de sugar a felicidade às pessoas que atacam. Literalmente. Aproximam-se da sua vítima e vemos a sua felicidade a vaporizar-se para dentro da boca horrenda e enorme dos Dementors, que, assim, roubam toda a felicidade a quem não se consegue proteger. A vítima fica oca, como ficará alguém a quem a felicidade foi roubada. Por outro lado, os Dementors não parecem ficar nem um pouco mais felizes, depois de absorvida uma boa dose de felicidade. Pelo menos a julgar pelo ar sombrio que mantêm e pela sua saída em busca de mais vítimas. É como roubar uma linda rosa de um jardim, e a seguir, deixá-la cair na valeta mais próxima. Matando a rosa e entristecendo o jardim. Para nada…
Acho que há, de facto, muitos Dementors por aí. Uma sala pode estar cheia de pessoas felizes, bem dispostas, animadas em conseguir algo. Quando entra um Dementor, a sala fica de imediato pesada, escura, a felicidade começa a escoar lentamente dos corpos de cada um. Da mesma forma, quando o Dementor sai, o sentimento de alívio é notório, ainda que ninguém o verbalize.
Todos já nos cruzámos com um destes Dementors, e talvez por isso às vezes dê por mim a acreditar no mundo de Harry Potter. Por isso e porque ainda procuro magia na vida.
No mundo mágico, o feiticeiro deve encontrar uma memória, aquela memória mesmo boa e feliz que tem, e essa memória produzirá um feitiço forte o suficiente para afastar o Dementor.
Na vida dos Muggles, deparo-me muitas vezes com dúvidas sobre a melhor forma de enfrentar estes vilões, porque esta memória ajuda, mas nem sempre funciona com a eficácia prometida nos livros.
E, há pouco tempo, encontrei uma resposta a esta pergunta numa prateleira de uma livraria, no livro “Os dias do avesso”, transcrição de algumas conversas de Isabel Stilwell e Eduardo Sá no programa de rádio homónimo.
E porque naquele dia precisava mesmo ler aquelas palavras, não resisto a aqui publicar algumas das palavras de Eduardo Sá, esperando que também a alguns de vocês dêm uma resposta:

“Mas fiquei a pensar que andam por aí muitos Dementors. Pessoas que parece que nos sugam a felicidade. No emprego, no autocarro, numa loja em que se entra, aos saltinhos, feliz, com a alma levezinha, e se sai pesado, cansado. Porque há pessoas que com uma frase, dois comentários, conseguem sugar-nos a felicidade.
(…)
Há muitas pessoas que ficam incomodadas com o facto de sentirem alguém com vida, com esperança, com capacidade de enamoramento com tudo o que está ao seu lado. E, de facto, essas pessoas não descansam sem as sugar naquilo que elas têm de melhor. Ás vezes, essas pessoas são professores e sugam a felicidade dos alunos. Às vezes, acontece ao contrário. Às vezes, são pais e sugam a felicidade dos filhos. Às vezes, são pessoas que se cruzam na nossa vida e não param de sugar aquilo que reconhecem de saudável em nós. Uma memória (tem que ser mágica!) ajuda. Mas mais importantes, ainda, são as nossas convicções. As pessoas que nos querem sugar ajudam-nos muito. Quando nos obrigam a olhar bem para dentro de nós, e a perguntar-nos em que é que acreditamos, dão-nos a mais preciosa de todas as ajudas.
(…)
Os guardas de Azkaban, que é uma prisão, estão presos. Mais presos do que eles imaginam. É claro que, enquanto prendem os outros, distraem-se de tudo aquilo que os suga, por dentro. Mas Azkaban fica mais perto das nossas casas ou dos nossos trabalhos do que parece. E, sendo assim, a forma de não ficarmos Dementors passa por lhes explicarmos que só nos suga quem se sente mortificado por dentro. E que, por mais que o desejem, o medo com que nos tentam impedir de perceber o que se passa dentro deles não nos impedirá de os compreender. Nunca vencemos o mal. Vencemos, isso sim, o medo que o mal nos impõe (mesmo depois de vacilarmos). E o medo do mal vence-se por agarramos o melhor de nós. Essa é a magia.

E atrevo-me a deixar uma ideia mais para além da que Eduardo Sá nos dá. Assim como os Dementors conseguem esvaziar uma sala de felicidade, também existem aqueles que, da mesma forma, enchem essa mesma sala de alegria e de um bem estar aconchegante, muitas vezes recorrendo a algo tão simples como um sorriso de compreensão, uma palavra de alento, ou um simples “como estás hoje?”. Essas pessoas são o outro lado dos Dementors, ajudam-nos a manter o equlíbrio. Nos livros de Harry Potter, são, talvez os Aurors, uma espécie de polícias, que protegem os feiticieiros contra os vilões do mundo mágico.
E porque tenho a sorte de ter algumas pessoas assim na minha vida, aqui lhes deixo o meu obrigada, obrigada por não deixarem que a felicidade na minha vida seja sugada. Não preciso dizer nomes, sabem quem são.

Um beijo, e um sorriso.

***

Do you like the books from the "Harry Potter" saga? Well, I like it. Such a writing is nice, sometimes. To be transported to a different world, where magic still exists, to imagine it exists right here beside me, on the platform in the train, the one I have not seen - that magic exists, but I can not see it. If so, it would be sad, perhaps, but the idea is still fascinating.
Secondly, the range of characters; we identify ourselves more with one or the other, and despite they are characters in a magical world, we know them, here, in the Muggles’s world.
Today I will not talk about the heroes, but rather about the villains.                         
I made a play once, to find characters of the books in some people I know. And yes, there were those who could be the most obvious villain, He Whose Name Can Not Be Spoken. But other villains came to mind, the Dementors.
The Dementors are guards of Azkaban, the prison of the wizard world. Their weapon was their ability to suck happiness from the people they attacked. Literally. They approached their victim and we would see happiness vaporizing into the mouth of the huge and hideous Dementor, who thus rob all happiness to those who could not protect themselves. The victim got hollow, as would be someone whose happiness was stolen. Moreover, the Dementors not seem to get even a little happier after absorbing a good deal of happiness. At least judging by grimly look they kept and since they went out in search for more victims. It's like stealing a beautiful rose from the garden, and then drop it in the nearest ditch. Killing the rose and saddening the garden. For nothing ...
I think there are indeed many Dementors around. A room may be full of happy people, well disposed, animated about achieving something. When a Dementor enters, the room is immediately heavy, dark, happiness starts to slowly go away from the people around. Likewise, when the Dementor igets out, the feeling of relief is notorious, though nobody verbalizes it.
All of us have crossed with one of these Dementors, and maybe that's why sometimes I believe in Harry Potter’s world. And because I still search for magic in life.
In the magical world, the sorcerer must find a memory, that memory you have which is good and happy, and that memory will produce a spell strong enough to ward off the Dementor.
In the lives of Muggles, often I am faced with questions about the best way to tackle these villains, because this memory helps, but does not always work with the efficiency promised in the books.
And, recently, I found an answer to this question on a shelf of a bookstore, in the book "The days inside out," transcript of conversations between Isabel Stilwell and Eduardo Sá, on the radio program with the same name.
And sinceb that, on that day I really needed to read those words, I can not resist posting here some of Eduardo Sá’s words, hoping some of you may also find an answer here:

"But I think that many Dementors walk around. People who seem to suck our happiness. At work, on the bus, in a store you enter, hopping, happy, really light soul; and you leave heavy, tired. Because there are people which with one sentence, two comments can suck us happiness.
(...)
There are many people who are uncomfortable with the fact that someone feels alive, with hope, capable of falling in love with everything around. And, indeed, these people do not rest without sucking the best they have. Sometimes these people are teachers and suck the happiness of students. Sometimes it happens in reverse. Sometimes they are parents and suck the happiness of children. Sometimes, it’s people who cross our lives and do not stop sucking what they recognize of healthy in us. A memory (it must be magical!) helps. But more important, though, it’s our beliefs. People who want to suck our happiness help us a lot. When they force us to take a good look within ourselves, and ask ourselves what we believe, they give us the most precious of all aid.
(...)
The guards of Azkaban, which is a prison, are imprisoned. They are more prisoners than they imagine. Of course, while holding others, they distract themselves from everything that sucks them inside. But Azkaban is closer to our homes or our jobs than it seems. And thus, the way not to became a Dementor is to explain that the only ones who suck us are the ones who feel mortified inside. And that, as much as they wish, the fear with which they try to prevent us from realizing what is inside them, they will not prevent us from understanding them. We will never overcome evil. But we can overcame the fear that evil imposes upon us (even after falter). And the fear of evil is beaten by holding on to the best of us. That's the magic. "

And I dare to leave another though, beyond the one Eduardo Sá gives us. Like the Dementors can empty a room of happiness, there are also those who, likewise, fill the same room with joy and a cosy well being, often resorting to something as simple as a smile of understanding, a word of encouragement or a simple "how are you today?". These people are the other side of the Dementors, who help us to keep balance. In Harry Potter’s books, they are the Aurors, maybe, a sort of policemen, who protect the wizards against the villains of the magical world.
And because I am lucky to have some people like that in my life, here I leave them my thanks, thanks for not letting happiness in my life being sucked out. Needless to say names, they know who they are.

A kiss and a smile.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Estações de caminho-de-ferro / Railway station

Imagem da web

As estações de caminho de ferro são locais com muita personalidade. Umas mais que outras, um pouco como as almas que por lá passam.
Veias de partidas e chegadas,  nelas flui a imaginação.
Sejam elas grandes interpostos onde se cruzam vários destinos, ou sejam elas pequenas estações onde uma pequena carruagem passa poucas vezes no dia, todas elas têm o seu fascínio.
Talvez ainda pelo relógio sempre presente no cais de embarque – os relógios também eles peças com muita personalidade.
Ou talvez pelos comboios que chegam de outras paragens, que nos levam a outros lugares. Sentada no banco da estação, olho os carris, e imagino ali a chegar um dos velhos comboios a vapor, com o seu som característico, lá dentro alguém atira carvão para a fornalha e a carruagem arranca de novo, levando consigo os vagões, e os seus passageiros, com as malas ao pé de si. Malas, algumas cheias de sonhos e expectativas, de como será a estação no destino, de quando voltarão àquela estação, se estará na mesma quando voltarem…
Creio que nunca estará… O comboio traz algo e algo leva. E assim a estação de caminhos-de-ferro acumula as suas histórias…

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The railway stations are places with lots of personality. Some more than others, just as the souls who pass by.
Veins of departures and arrivals, the imagination flows in them.
Whether they are large stations at the crossroads of several destinations, or whether small stations where a little carriage passes a few times a day, they all have their charm.
Perhaps the clock always present in the piers - they also pieces with lots of personality.
Or maybe the trains arriving from elsewhere, that lead us to other places. Sitting on the bank of the station, I look ay the rails, and I imagine one of the old steam trains arriving, with their distinctive sound, inside someone throwing coal into the furnace and the carriage starts again, carrying wagons, and their passengers with their bags beside them. Bags, some full of dreams and expectations, how will the station be at the destination, when will they return to that station, will it be the same when they return ...
I think it will never be ... The train brings something and takes something with it. And so the station railways accumulates their stories ...
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