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Há algumas semanas, li uma reportagem bastante interessante
sobre os cães. Aprendi uma série de factos curiosos sobre estes animais, como,
por exemplo, o facto de conseguirem memorizar até 200 palavras.
Mas o que me chamou mais a atenção, foi uma outra
curiosidade: os cães são os únicos animais que olham os humanos nos olhos. Os
outros animais evitam o contacto directo com os olhos.
E apesar de nunca ter pensado nisso, parece-me que realmente
é verdade. Talvez essa seja uma das razões que me faz gostar tanto de cães.
Outra é a sua personalidade.
Já tive cães – os meus pais tiveram – e todos eles
demonstraram uma personalidade própria.
O meu primeiro cão, o Pluto, tinha quase a minha idade, por
isso não tenho recordações dele enquanto cachorro. Já na sua plena idade adulta
– e na minha infância – era um cão temperamental, que para além dos donos,
poucas pessoas deixava aproximar. Um enorme pastor alemão, ou pelo menos enorme
parecia a uma miúda de sete anos. Um cão que gostava de se manter no seu espaço
e que não gostava muito que o convidassem a brincar. Quando envelheceu, deu-se
uma mudança, tornou-se mais afável e pedia-me muitas vezes festas.
Também ele me lembra dos seres humanos, quantas pessoas não
conhecemos que perdem um pouco da sua dureza quando a idade começa a avançar
sobre si…?
Depois, chegou o Black. Pude seguir a sua fase de cachorro,
os momentos em que ia descobrindo o que o rodeava. Era um animal muito meigo e
também muito perspicaz, se assim o posso dizer. Adorava brincar, mas quando
percebia que eu estava triste e que precisava estar um pouco com o meu
silêncio, vinha apenas deitar-se ao pé de mim, e ficava ali, a fazer-me
companhia, pacientemente, até que eu decidisse levantar-me. Da mesma forma,
também ele tinha momentos assim, em que eu o chamava para uma corrida e ele
apenas me olhava, permanecendo deitado, com os seus pensamentos. Deixava-me
também aproximar, ficar ali um pouco a fazer-lhe companhia, mas aqueles eram
momentos seus. Quando ficou doente, anos depois, deixava-me passar as mãos pelo
seu dorso, enquanto me ouvia a tentar animá-lo. Mas quando olhava para mim, eu
via nos seus olhos que ele sabia, tanto como eu, que o que eu dizia escondia
palavras de saudades antecipadas. Não o esqueci, mesmo depois de a tristeza se
diluir um pouco.
Mais tarde, e quase ao mesmo tempo, conheci o Duque e o
Jimbo, dois cachorros já com uma personalidade diferente nessa altura, quase
antagónica, mas que não os impediu de se darem sempre bem.
O Jimbo era meio desajeitado em cachorro, com enormes patas,
gostava de correr e de saltar. No meio de uma brincadeira, magoou uma pata e a
sua expressão de aflição era angustiante. Aninhei-o no meu colo até a dor
passar, e logo voltou a correr, como se nada tivesse acontecido. Enquanto
crescia, mostrou-se sempre muito meigo, mas meio metido consigo. Quando se
cansava de correr e saltar, ia para o seu cantinho. Um pouco contrastando com o
Duque, verdadeiro “piolho eléctrico”, sempre a chamar toda a gente para brincar
com ele. Apesar de se dar bem com o seu amigo, costumava “choramingar” quando
achava que alguém lhe estava a dar atenção demais, e que agora era a sua vez de
brincar. Eram ciúmes de amigos, amigos tanto eram, que partiram quase ao mesmo
tempo...
Partiram todos os meus amigos de quatro patas, ficaram as
memórias do seu companheirismo, do seu carinho incondicional, daquele que é tão
difícil de encontrar. Ficaram saudades…
………..
A few weeks ago, I read a very
interesting story about dogs. I’ve learned quite a few curious things about
these animals, for example, the fact that they can store up to 200 words.
But what caught my attention the
most, was another curiosity: dogs are the only animals that look directly at
the human eye. The other animals avoid direct contact with our eyes.
And though I he never thought of
that, it seems to me that it really is true. Perhaps this is one of the reasons
that makes me so fond of dogs. Another is their personality.
I've had dogs - my parents had - and
they all showed personality.
My first dog, Pluto, was almost my
age, so I have no memories of him as a puppy. Already in its full adulthood -
and in my childhood - it was a moody dog, who allowed few people near him,
besides the owners. A huge German Shepherd, or at least it seemed huge to a
little seven year old girl. A dog who liked to stay in his space and did not
like much to be invited to play. When he grew old, there has been a change, he became
more friendly and often asked me to pet him.
This also reminds me of human
beings, who does not know those people who loose some of its hardness when age
begins to advance on them...?
Then came Black. I could follow his young
puppy phase, the moments he discovered that which surrounded him. He was a very
gentle animal and also very insightful, if I may say so. He loved playing, but
when he realized that I was sad and needed to be a bit by my silence, he would came
and just lie down beside me, keeping me company, patiently, until I decided to
get up. Likewise, he also had moments like this, when I called him to a race
and he just looked at me, staying there, with his thoughts. He would let me get
close, stay there a little to keep him company, but those moments were his.
When he became ill, years later, we would let me pass my hands over his back,
as I spoke to him, trying to cheer him up. But when he looked at me, I saw in
his eyes that he knew, as I did, that what I said had hidden words of anticipated
longing. I didn’t forget him, even after the sadness was a little diluted.
Later, and almost at the same time,
I met Duke and Jimbo, two puppys, already with a different personality at the
time, almost antagonistic. Not that this stoped them to always get along.
Jimbo was an awkward puppy with huge
paws, who liked running and jumping. In the middle of a run, he hurted it’s paw
and its expression of grief was overwhelming. I cradled him in my lap until the
pain went away, and soon he returned to playing, as if nothing had happened.
While growing up, he was always very gentle, but kind of keeping to himself.
When he was tired of running and jumping with us, he went to his corner.
Somewhat in contrast with Duke, a truly "electric lice," always calling
everyone to play with him. Although getting along with his friend, he used to
"whine" when he thought someone was giving him too much attention,
and that now it was his turn to play. It was friendly jealous, there was so
much friendship between them, that they left at about the same time...
They left, all my four legged
friends, but the memories of their friendship remain, of their unconditional
love, the one so hard to find. I do miss them...