Quem lê / Who's reading

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Pelas páginas de... Até ao Fim, Vergílio Ferreira

Alguns livros ficam guardados na estante durante algum tempo até chegar o dia em que têm que ser de novo lidos. Com novos olhos, para descobrir novos detalhes ou ver alguns de outro ângulo.
Descobri Vergílio Ferreira na escola, com "Aparição". No meses seguintes, devorei vários outros títulos deste autor, pedidos emprestados na Biblioteca Municipal. Já na faculdade, comprei alguns títulos, que guardei em conjunto com aquele primeiro livro do autor.
Há tempos, tive vontade de o reler, e peguei no livro "Até ao Fim".
Não vou deixar um resumo da história, nem uma crítica literária (para a qual não estou habilitada), mas gostaria de partilhar convosco alguns excertos que, nesta segunda leitura (e alguns da primeira), mais me marcaram. 
Se estes excertos vos aguçarem a curiosidade de ler esta obra, espero que a apreciem tanto como eu.

***
"A felicidade não se mede pela quantidade do que nos aconteceu de agradável, mas pela quantidade de nós que responde ao que acontece. Nunca ficou nada em mim que não respondesse. E nas tintas para a filosofia."

***

"E que vamos lá fazer? Mas já to disse, vou fazer uma entrevista. Para quê? E aqui reparo que a pergunta é maior que eu. Tento preenchê-la como posso. E digo, e disse. Miguel portanto era miúdo, porque só quando se é pequeno é que se têm perguntas grandes."

***

"A vida é só ela a ser, sem argumentação. Há mais verdade numa couve que em toda a filosofia."

***

"Não me ponhas o pão com água, oh não, Tina. Cresci muito. Durmo já noites de homem. Nem botija no Inverno? Cresci já até aos ombros viris, tenho já a voz grossa, o que digo agora nela tem o peso do mundo, Tina. Estou já cheio de responsabilidades, tu não podes imaginar. Lutas ódios maldições. E os sonhos, que também pesam. E a estafa para atingir o futuro. E os desastres falhanços humilhações. E essa coisa esquisita dos «problemas de consciência». Não me perguntes o que isso seja, que também não sei bem, Tina. E os ideais com que embandeira a loucura. E o quotidiano que é chato por sua intrínseca natureza e que tem também o seu direito. E mesmo o amor, só é bom enquanto não é ou quando já não. como todas as coisas. E esta chatice absurda de só se gostar a valer do que nunca pode existir. E não me ponhas essa cara pasmada de quem viu o demónio em feitio de cabra à meia-noite, porque tudo o que te digo tem uma verdade solar como um dia de canícula. Ah, cresci demais para poderes existir. Em todo o caso não posso ainda existir todo para largar tudo de mão. Uns anos ainda, Tina. Estou bem confuso da vida - enquanto a sonata me envolve ainda de melancolia. Tenho a alma enregelada, se tu fosses ainda a botija. Estou cheio de horrores adultos e seria bom vir ainda de ti a pacificação."

4 comentários:

  1. Li esse livro "recomendado" por um ex-aluno do escritor (Pedro Rolo Duarte). Adorei!

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  2. aguçou-me a vontade de reler, até ao fim

    obrigada, Isa

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  3. Isa,
    Graças a ti, descobri este talentoso autor e, se só ainda li "Aparição", já quero ler todas as obras de Virgílio Ferreira "Até ao fim".

    Obrigada por nos oferecer estes excertos! Alguns deles falaram-me… outros até gritaram!

    Beijinho!

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  4. Uma belíssima revisitação! De Virgilio Ferreira há um livro que gosto particularmente, mesmo não conhecendo a obra toda, e é precisamente este... Penso que o vou reler...so tenho de o encontrar... se é que ainda o tenho...

    grande beijinho sempre amigo

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