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segunda-feira, 10 de junho de 2013

Portugal

Xutos e Pontapés, o Homem do leme

Porque hoje é dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Que não nos esqueçamos do melhor que fomos e podemos ser.


O Velho do Restelo, Camões

94
Mas um velho, de aspecto venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:
95
- "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
96
- "Dura inquietação d'alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo dina de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!
97
- "A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos, e de minas
D'ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? que histórias?
Que triunfos, que palmas, que vitórias?
Os Lusíadas, Canto IV, 94-97



O Mostrengo, Fernando Pessoa in A Mensagem

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou trez vezes,
Voou trez vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-rei D. João Segundo!»


«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou trez vezes,
Trez vezes rodou immundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-rei D. João Segundo!»


Trez vezes do leme as mãos ergueu,
Trez vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer trez vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quere o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
D' El-rei D. João Segundo!»

17 comentários:

  1. Ótimo post...ótima homenagem...excelente conteúdo para nós!

    []s

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  2. E que melhor para celebrar este dia que Camões e Pessoa?
    Acompanhados, claro está, pelos Xutos (que me fizeste descobrir recentemente)!
    Dia de Portugal para que ele tente centrar-se no que é sem se fechar... missão difícil, mas que podemos alcançar com vontade e com a inspiração desses gigantes!
    Beijinhos, Isa!

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  3. Portugal é o mar, e antes do mar o douro... é navegar, muito antes da internet, epicamente, com Camões e Pessoa, e nossa adorável língua...

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  4. Para mim é um dia que vai muito para além do dia da nação.
    Obrigado pela partilha.
    Bjs e boa semana

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  5. Portugal sempre foi grande....não sei se haverá é mais Camões, Pessoas e outros.

    Beijinho

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  6. Lindo Dmais, música e imagens com a alma portuguesa. A todos desta terra tão linda meu carinho muito especial entre Xutos &Pontapés,
    Beijos, Claudia Cavalcanti

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  7. Olá amiga
    Comentar Camões é no mínimo voltarmos ao português de origem, voltar ao nosso Brasil-Portugal e podermos vivenciar todo o caminho de nossa língua mãe e termos a certeza que muito perdemos com o passar de todos esses anos, pena

    Abraços,
    Trocyn Bão - Thiago

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  8. Leituras que nos acrescentam...
    Parabéns por este espaço!!
    Dia feliz!***

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  9. Olá, querida
    Esse país irmão tão lindo.... a ele meus parabéns!!!
    Seja muito feliz e abençoada!!!
    Bjm de paz e bem

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  10. Uma postagem de luxo com Camões, Pessoa e Xutos... Parabéns pelo amor ao seu país. Aqui foram muitos os portugueses que não comemoraram ou esqueceram talvez. Beijo

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  11. deixo um abraço, Isa

    já que no comentário anterior, deixe-lhe um abarço

    :))

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  12. Reler Camões, nomeadamente, os poemas que postaste, não é só lembrar um génio poético, é a gente ficar a pensar no nosso destino de glórias vãs. Ser velho do Restelo o que significará verdadeiramente? Para a frente para a Europa - se fosse hoje, claro -:seriam palavras sensatas? Quanto ao Mostrengo...ode à nossa valentia, aventura, coragem, mas sem esquecermos que tínhamos o saber científico e tecnológico. E tudo durou enquanto isso durou. E o que ficou? Termino dizendo: ficou a poesia e o génio de Camões. Abandonado no fim da vida. Como haveria de repetir-se no futuro com muitos talemtos. Somos assim, Portugal.

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  13. .

    .

    . a grandeza que o presente parece querer deixar fugir .

    .

    . entre.dedos . tarsos .

    .

    . (belíssimo também o fundo do blogue) . :) .

    .

    . um beijo meu .

    .

    .

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  14. Camões e Pessoa!
    E modernamente há outros... mas poucos!
    Beijinho para si!

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