Quem lê / Who's reading

sábado, 28 de julho de 2012

Venezia

Venezia, 2010

Veneza. Se tivesse que a descrever numa palavra? Aguarela.
Talvez esperassem romântica. Também o é, as gôndolas a circular pelos canais, passando por debaixo de pequenas pontes, certamente nos trazem essa imagem. A de uma história de Shakeaspeare. Dois amantes fugindo, com a cumplicidade do gondoleiro. Ou apenas a passearem, a ouvir o tal sino, ao pôr-do-sol.
É uma das imagens de Veneza, mas para mim, depois de passar lá um dia, é a de uma aguarela. Em tons quentes, a retratar os edifícios antigos que ladeiam os canais. Alguns edifícios que fazem viajar um pouco no tempo. As gôndolas que se passeiam, os gondoleiros esperando viajantes. Com os seus chapéus de palha e as suas tshirts às riscas. A ponte de onde tirei uma foto, o pequeno cais onde encontrei uma desejada sombra, que o calor do início de Verão me fez procurar.
Numa das esquinas de movimentadas ruas de restaurantes e lojinhas. A própria Praça de S. Marcos daria uma boa aguarela, com a sua Basílica e a Torre do Relógio, e a sua proximidade ao Grande Canal.
Por fim, e como não poderia deixar de ser, o Carnaval de Veneza. Já se tinham passado alguns meses, por isso apenas pude apreciar as máscaras. Verdadeiras obras de arte, algumas, fazem voar a minha imaginação, mais que as de outros Carnavais. São máscaras que juntam muito glamour com um mistério irresistível; por detrás dos brilhantes, das plumas, das cores, quem estará? Queremos saber? Talvez não. Mas gostaria de viver esse ambiente, de abraçar a ilusão por um dia. Ser quem a máscara sugerisse.
Talvez, talvez volte a Veneza. No Carnaval.
.-.-.-.-.-.

Venice. If I had to describe it in one word? Watercolor.
Maybe you were waitind for me to say romantic. So it is also, the gondolas moving in the canals, passing under small bridges, that will certainly bring us that image. A story of Shakespeare. Two lovers on the run, with the complicity of the gondolier. Or just taking a walk, listening to that bell, when the sun sets.
It is one of the images of Venice, but for me, after going there for a day, is a watercolor. In warm colours, to portray the old buildings alongside the canals. Some buildings that make us travel a little in time. The gondolas, the gondoliers waiting for travelers. With their straw hats and their striped tshirts. The bridge where I took a photo, the small pier where I found a desired shade, the heat of early summer made ​​me look for it. In one of the corners of a busy streets of restaurants and shops. The S. Mark Square itself would make a good watercolor, with its Basilica and the Clock Tower, and its proximity to the Grand Canal.
Finally, the Carnival of Venice. It had passed a few months, so I could only appreciate the masks. True works of art, some of them, make my imagination fly, rather than the other Carnivals. These masks combine glamour with a compelling mystery, behind the bright plumes, colours, who is there? Do we want to know? Maybe not. But I want to live this environment, to embrace the illusion for a day. Be who the mask suggestes.
Maybe, maybe I’ll go back to Venice. At Carnival.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Porquê? / Why?


Começara com um cheiro pronunciado a fumo e a sensação de que a temperatura aumentara repentinamente.
Ao saírem de casa, as gentes aperceberam-se das labaredas que rasgavam caminho pelo centenário pinhal, ainda ao longe.
Ao que parecia, já alguém havia chamado os bombeiros, já se ouviam as sirenes também à distância.
Inicialmente parecia longe da aldeia, mas agora aproximava-se rapidamente. Demasiado rápido. O fumo e o calor intensos apenas aumentavam o pânico que começava a propagar-se, quase tão rápido como as chamas.
A água caía sobre o fogo, mas não parecia sequer acalmá-lo e a natureza tem vontade própria o vento levantava-se também.
Os bombeiros começaram a pedir a todos que saíssem, era já necessário evacuar a aldeia. Numa das casas, ouviam-se vozes, a voz de alguém que se recusava sair e a voz de tentativa calma de alguém que lhe explicava que tinha que ser.
De um ponto mais alto, aldeões evacuados, mirones, olhavam a luta contra o fogo, o vermelho dos carros de bombeiros a esbater-se contra o amarelo inferno das chamas, o barulho dos helicópteros como que a fundir-se com o ambiente que se vivia. A ameaça à subsistência, ao que se construiu, às memórias, o medo de que possa não vir a restar mais nada.
No meio dos mirones, alguém segurava algo na palma da mão, algo bem protegido dentro do bolso. Olhava fascinado o poder do fogo, talvez mais fascinado que os primeiros homens que o descobriram. Mas sem o medo original.
Para algumas pessoas, o poder é tudo. É sempre belo. Indepentemente da marca que deixe.
À sua volta, todos se interrogam: “Porquê?”
Findo o rescaldo, o betão ficou miraculosamente intocado. Todos puderam regressar a suas casas na manhã seguinte. Todos, juntamente com o medo.
O verde não existia mais, substituído por pedaços de raízes fumegantes, negras, algumas ainda ligeiramente incandescentes. Talvez tenha sido este cenário que Dante imaginou.
A pergunta repete-se na mente de todos: “Porquê?”
Ali perto, um mirone continua a segurar na palma da mão um pequeno objecto, protegido dentro do bolso, sob a capa da normalidade.
“Porquê?”

»»» Infelizmente, este texto é baseado em histórias reais e, tristemente, algumas tiveram desfechos mais dramáticos.
Heróis são aqueles que em situações em que o desespero espreita  tornam o impossível em possível.
Todos os Verões, há heróis. Também há vilões.
Fica um remate de esperança: onde estavam antes raízes fumegantes e negras, vejo hoje novas árvores. Verdes. Altas. Inspiradoras.
A vida renova-se.

….


All began with a pronounced smell of smoke and a sense that the temperature had increased suddenly.
When they went outside, the people noticed the fire that tore the centennial pine forest, still in the distance.
Apparently, someone had already called the fire department; they heard the sirens far away.
Initially it seemed far from the village, but now it was rapidly approaching. Too fast. The intense heat and smoke only increased the panic that began to spread almost as fast as the flames.
The water fell on the fire, but it seemed it wasn’t even calming it down, even nature has a will, and the wind got up as well.
Fire fighters began to ask everyone to leave, it was becoming necessary to evacuate the village. In one house, there were the voices, the voice of someone who refused to leave and a voice essaying calm, this one the voice of someone who tried to explain it had to be so.
From a higher point, evacuated villagers, voyeurs, all watched the fight against fire, the red of fire engines blurring against the yellow flames of hell, the noise of helicopters which  merged with the environment surrounding. The threat to survival, to what has been built by them, the memories, the fear that maybe nothing else will remain.
In the middle of the voyeurs, someone is holding something in his hand, something well protected inside his pocket. He looked fascinated about the firepower, perhaps more fascinated that the first men who discovered it. But without their original fear.
For some people, power is everything. It is always beautiful. No matter which scars it leaves.
Around him, everyone is asking: "Why?"
After the fire was put off, the concrete was miraculously untouched. All were able to return home the next morning. All, along with fear.
The green was gone, replaced by pieces of smouldering roots, black, some still glowing slightly. Perhaps this was the scene that Dante imagined.
The question is repeated in everyone's mind: "Why?"
Nearby, a voyeur continues to hold a small object in his hand, protected inside his pocket, under the guise of normalcy.
“Why?”

»» »Unfortunately, this text is based on true stories and, sadly, some had more dramatic outcomes.
Heroes are those who, in situations of despair, make the impossible became possible.
Every summer, there are heroes. There are also villains.
For a closing with hope: where before they were steaming and black roots, now I see new trees. Green. High. Inspiring.
Life renews itself.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Recordações / Memories

Há 10 anos...
Olhei para a pasta das fitas de fim de curso e não resisti a abri-la. Um pouco de saudosismo nunca fez mal a ninguém.
Já passaram 10 anos, e muito mudou, em mim e no que me rodeia. Mas algumas coisas ainda se mantêm iguais e, principalmente, algumas pessoas ainda se mantêm por perto.
Gosto de me sentar por vezes a reler as palavras que me deixaram, de lembrar aquela pessoa que escreveu, porque me deixou ali algo que lembra exactamente o que mais recordo dela.
E encontrei uma outra fita, no fundo de todas. Uma fita que escrevi para mim mesma, estranho, talvez pareça, mas sempre gostei de simbolismos.

Aqui partilho o que a caneta escreveu há 10 aninhos…:

» Sonhamos, perseguimos os sonhos e cumprimo-los.
À chegada, um sentimento misto de realização e já de saudade do que ficou.
Mas “não se chega à meta, a não ser para partir novamente.” Perseguir novos sonhos, rumo a novas chegadas.
Não esquecendo os momentos de cansaço, as dificuldades. Mas principalmente, nunca esquecendo os pequenos momentos em que sorri, e os grandes em que ri. E os que não foram nem grandes nem pequenos. E as amizades que fiz. Tudo o que faz o resto valer a pena.
Avançar, seguir o caminho traçado, e por vezes parar na berma, interrogar-me. Sobre mim, sobre a estrada, sobre o ponto em que estou. Ou, simplesmente, respirar fundo e recobrar energias para a jornada. « (Maio 2002)


Foto da web

I looked at the folder of my senior college year and could not resist opening it (*). A little of nostalgia has never hurt anyone.
10 years have passed and much has changed in me and around me. But some things will remain the same and, especially, some people are still around.
I like to sit sometimes, and reread the words people left me, to remember the person who wrote it, because I find there something that is exactly what I remember the most about that person.
And I found another ribbon at the bottom of all. A ribbon that I wrote to myself, strange it may seem, but I always liked symbolisms.

Here I share what the pen wrote 10 years ago…:

"
We dream, pursue our dreams and fulfil them.
Upon arrival, a mixed feeling of accomplishment and already of missing it.
But "you do not get to finish line, except to leave again." Pursue new dreams, towards new arrivals.
Not forgetting the moments of fatigue, difficulties. But mostly, never forgetting the little moments in which I  smiled, and the big ones when I laughed. And those moments that were neither big nor little. And the friends I made. All that makes the rest worthwhile.
To go, follow the path, and sometimes stop at the curb, ask myself. About me, about the road, about where I am. Or, simply take a deep breath and regain energy for the journey. " (May 2002)

(*) Tradiccionaly, in Portugal, graduation college students ask their colleagues to sign a ribbon. The ribbons have different colours accordingly to each university and each shool. 


domingo, 8 de julho de 2012

Emoção na cozinha / Emotions in kitchen


Vou contar-vos algo sobre mim. Gosto de cozinhar. De inventar receitas. De tentar misturar sabores e ver no que dá. 

Parece que alguns cozinheiros não gostam de cozinhar para si mesmos. Não querendo auto-designar-me de cozinheira, esse não é o meu caso. Gosto de cozinhar para os meus amigos, adoro ver uma expressão de prazer em alguém que prova um prato que preparei. Mas também gosto de comer o que preparo. E, por isso, também dou por mim a inventar pratos novos para mim mesma.

Por vezes surge uma ideia, de misturar este e aquele sabor, na minha cabeça parece que a ligação resultará. É um pouco o que me acontece com a escrita, de repente surge uma frase na minha cabeça, que virá a transformar-se em algo.

E gosto de ir para a cozinha, preparar a minha ideia, acrescentar algo mais quando estou a preparar e depois sentar-me à mesa e confirmar se os sabores se conjugam da forma que idealizei.

Também gosto de programas de culinária, gosto de tirar ideias e gosto de ver a paixão dos cozinheiros. Hoje apanhei a última parte de um programa que acompanhou uma das últimas refeições no El Bulli, acompanhado do próprio Ferran Ádrian. A sua expressão ao degustar os seus próprios pratos era a de alguém que os provava pela primeira vez, o que contrastava com as suas explicações quanto ao conceito do prato. 

O chef daquele que foi considerado várias vezes o melhor restaurante do mundo consegue sentar-se a uma mesa e degustar as suas próprios criações como se fossem uma novidade excitante. E enquanto isso fala da emoção que se deve colocar na cozinha e na comida... Isso é muito, muito bom!

.-.-.-.-.

Let me tell you something about me. I like cooking. Invent recipes. Try to mix flavours and see what happens.

It seems that some cooks don’t like to cook for themselves. Not wanting to self-assign me as a cook, this is not my case. I like cooking for my friends, I love to see an expression of pleasure in someone who proves a dish I’ve prepared. But I also like to eat what I prepare. And so, I find myself inventing new dishes for myself.

Sometimes an idea comes about mixing this and that flavour, in my mind it seems that the connection will result. It's a bit what happens to me with writing: suddenly some words appear in my mind, words that will become something.

And I like to go to the kitchen, prepare my idea, add something more and then sit at my table and see if the flavours came together the way I’ve envisioned.

I also like cooking shows, I like to take ideas and like to see the passion of the cooks. Today I caught the last part of a program that accompanied one of the last meals at El Bulli, accompanied by Ferran Adrian's. His expression tasting his own dishes was of someone who tasted it for the first time, in contrast to his explanations on the concept of the dish.

The chef of that which was often considered the best restaurant in the world can sit at a table and enjoy his own creations as if they were an exciting novelty. And this while he speaks of the emotion that should be placed in the kitchen and food ... This is very very good!
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