Recebi de presente
um livro com um nome sugestivo e com um conteúdo que lhe faz jus. “Caminhos”,
um livro de contos que nos fazem reflectir sobre a vida e as suas facetas, e
sobre nós próprios.
Partilho aqui
convosco um dos contos de que mais gostei, porque tem várias mensagens que me
parece importante interiorizar sempre.
Deixo também um
grande obrigada à Claudiane, que me enviou este lindo mapa!
***
"Joãozinho
era um garoto muito revoltado. O motivo principal de sua revolta era a extrma
pobreza em que viviam. Sentia vergonha de usar na escola seu uniforme gasto,
que sua mãe cuidadosamente passava horas remendando á noite, mal conseguindo
ficar acordada, após um dia duro de trabalho como faxineira
E todos os
dias Joãozinho reclamava da vida, e todos os dias ele ia para a escola com mais
revolta por mais um remendo em seu uniforme. Pensou em desistir de estudare
arranjar um emprego para ajudar nas despesas de casa. Desde que seu pai os
deixara, há alguns anos, sua vida ficava pior a cada ano. Os lindos presentes
de natal que sempre ganhava, haviam se transformado em pequenas barras de
chocolate. Era tudo o que sua mãe conseguia lhe dar.
Joãozinho foi
crescendo e se tornou um jovem revoltado com o Destino que o Céu lhe reservara.
Mesmo com seu emprego de carregador num supermercado, ele não conseguia ganhar
o suficiente para manter-se a si, sua mãe e seus dois irmãos mais novos.
Sua mãe já
não conseguia mais trabalho devido á idade avançada, e assim, a única maneira
de ajudar, era remendar as roupas dos filhos e cuidar para que estivessem
sempre em condições de uso.
Por tudo
isso, Joãozinho odiava remendos e sonhava com o dia em que poderia comprar
roupas novas.
Mas, um dia,
sua mãe faleceu repentinamente, e Joãozinho ficou com a responsabilidade de
cuidar dos irmãos, tendo apenas 15 anos de idade. Triste pela morte da mãe, e
sem ela para cuidar de suas roupas, ele ficou desesperado, porque pior que usar
roupas remendadas era usar roupas rasgadas. Começou a perceber a importância do
esforço que sua mãe fazia para mantê-los vestidos e percebeu como é difícil
fazer um remendo bem feito.
Agora, só
tinha sua namoradinha, Clarisse, para quem se queixar da vida, e graças a ela,
que vinha de vez em quando remendar suas roupas e fazer comida para seus
irmãos, foi possível continuar na escola e se formar. Ao contrário dele, ela
nunca se queixava, e se limitava a cuidar dos três com extremo zelo. Pensou na
coincidência de sua aparição em sua vida, justamente quando sua mãe se fora.
Agora, já
formado, conseguiu um emprego melhor, e por ser uma pessoa extremamente
persistente e trabalhadora, logo estava progredindo e deixando para trás os
tempos das roupas rasgadas.
Uma pequena
mão tocou no seu ombro, e uma pequena voz perguntou carinhosamente:
- Preocupado
com alguma coisa?
Joãozinho
olhou para Clarisse e para seus dois filhos brincando à distância no lindo
gramado do jardim de sua maravilhosa casa de praia. Estava bebericando uma
caipirinha e esperando por seus dois irmãos que viriam almoçar hoje com ele,
juntamente com suas esposas e filhos. Pousou sua mão sobre a mão da esposa, e
seus olhos marejaram.
- Sabia que
você é uma grande costureira?
Clarisse o
olho intrigada, sem entender.
- Ao remendar
pacientemente, sem queixas, as nossas roupas, você fez o maior de todos os
remendos. Remendou minha alma, curando-a da revolta e do ódio. Nunca
conseguirei lhe ser grato o suficiente.
- Fiz mais
que isso! – disse ela sorrindo enquanto sentava em seu colo. Com aquela linha e
aquela agulha cosi você a mim para sempre!
Um beijo os
uniu, enquanto a campainha tocava anunciando a chegada das visitas.”
O remendo, J. B. Xavier