Quando me perguntam qual o meu filme, música ou livros favoritos, nunca consigo dar uma resposta. Talvez seja estranho, não conseguir fazer esta escolha. Poderei responder qual a minha cor favorita, qual o local que mais gostei de visitar, onde vi o pôr do sol mais bonito, onde gosto mais de estar quieta comigo mesma, qual o meu número favorito... Outro facto potencialmente estranho, saber dizer o meu número favorito...
Claro, existem músicas que ouço em qualquer lugar e momento, por oposição àquelas que apenas certos estados de espírito chamam. Existem letras que parecem ter sido escritas para mim, vozes que os meus ouvidos captam para além da afinação e até talvez para além do timbre que se destaca.
Existem livros cujas histórias me acompanham para além da leitura ansiosa, para além do “vou ler apenas mais um capítulo e continuo a ler amanhã”. Existem livros com detalhes que ainda habitam a minha memória, apesar de já os ter lido há bastante tempo. Alguns que já reli, outros que sei que irei reler. Alguns até das memórias da minha infância, livros que encontro por vezes numa livraria, que me trazem um pouco de melancolia, misturada com a vontade de o comprar e reler aquela história de que ainda me lembro tão bem. Páginas que me lembram de como sempre gostei do ritual de passar mais uma folha, de imaginar as personagens, o seu rosto, o tom das cores dos locais onde se movimentam, o som da sua voz.
Existem filmes que posso rever sem que aquela cena em particular deixe de me emocionar, outros em que a inteligência de uma determinada fala não se torna menos pertinente apenas por já a conhecer. Filmes que me deixaram em silêncio quando acabaram. Filmes em que ri, filmes que me arrancaram lágrimas, filmes que me deixaram tristes por saber que existem pessoas feias por dentro, não apenas ali, no ecrã. Que existem coisas que não são ficção. Mas outros que me lembraram de que o contrário também é verdade e que não devemos deixar de acreditar nisso.
Não sei qual o meu filme, música ou livro favoritos, mas sei que gosto de ouvir histórias de gente real ou imaginária, de conhecer outras vidas, outros pensamentos, outras emoções.
E sei que gosto de me sentar perto da água, a ouvir o seu som por vezes quase suspirado, e que gosto de brincar com ela, senti-la a refrescar-me a pele e os sentidos. Porque nem sempre preciso de histórias, porque nem sempre precisamos responder a perguntas. Pelo menos a perguntas com uma resposta apenas.
Foto da Web |
When someone asks me what’s my favourite movie, music, or book, I can never give an answer. Maybe this is weird, not being able to make this choice. I can answer about my favourite colour, which place I liked to visit the most, where was it that I saw the most beautifull sunset, where do I like to be still with myself, what’s my favourite number…. This maybe be also weird, to know what’s my favourite number….
Of course, there are those music I can hear any place or any moment, oposing those only certain states of the soul call for. There are lyrics which seems to have been written for me, voices my ears pick up further than the tunning and maybe behond the tone that detaches.
There are books which stories follow me further than the anxious reading, behond the "I’ll just read this one more chapter and I’ll continue tomorrow”. There are books with details that still inhabit my memory, even though I’ve read them a long time ago. Some that I’ve reread, some that I know I will. Some from my childhood memories, books that I sometimes find in a bookstore, who bring me a bit of melancholy, along with the desire of buying it and reread that story I still recall so well. Pages that remind me about how I always liked that ritual. The ritual of turning another sheet, imagining the caracthers, their faces, the color tone on the places they move on, the sound of their voices.
There are movies I can see again and that particular scene will still stir emotions, in others, that inteligent line is not less pertinent, just because I already know it. Movies that left me in silence when they were finished. Movies that made me laugh, movies that left me sad by knowing that there are people so ugly inside, not just there, in the screen. That there are somethings that are not fiction. But others that remind me that the opposite is also true and that we shoud never stop believing that.
I don’t know what’s my favourite movie, music or book, but I do know I like to listen to stories of real or imaginary people, knowing other lives, other thoughts, other emotions.
And I know I like to seat near the water, listening to the sound of it, it’s sound sometimes almost wispered. I know that I like to play with it, to feel it refreshing my skin and my senses. Because sometimes, I don’t need stories, because sometimes, we don’t need to answer questions. At least not questions with only one answer.