Quem lê / Who's reading

sábado, 31 de março de 2012

Perguntas sem resposta / Questions without answer

Quando me perguntam qual o meu filme, música ou livros favoritos, nunca consigo dar uma resposta. Talvez seja estranho, não conseguir fazer esta escolha. Poderei responder qual a minha cor favorita, qual o local que mais gostei de visitar, onde vi o pôr do sol mais bonito, onde gosto mais de estar quieta comigo mesma, qual o meu número favorito... Outro facto potencialmente estranho, saber dizer o meu número favorito...

Claro, existem músicas que ouço em qualquer lugar e momento, por oposição àquelas que apenas certos estados de espírito chamam. Existem letras que parecem ter sido escritas para mim, vozes que os meus ouvidos captam para além da afinação e até talvez para além do timbre que se destaca.

Existem livros cujas histórias me acompanham para além da leitura ansiosa, para além do “vou ler apenas mais um capítulo e continuo a ler amanhã”. Existem livros com detalhes que ainda habitam a minha memória, apesar de já os ter lido há bastante tempo. Alguns que já reli, outros que sei que irei reler. Alguns até das memórias da minha infância, livros que encontro por vezes numa livraria, que me trazem um pouco de melancolia, misturada com a vontade de o comprar e reler aquela história de que ainda me lembro tão bem. Páginas que me lembram de como sempre gostei do ritual de passar mais uma folha, de imaginar as personagens, o seu rosto, o tom das cores dos locais onde se movimentam, o som da sua voz.

Existem filmes que posso rever sem que aquela cena em particular deixe de me emocionar, outros em que a inteligência de uma determinada fala não se torna menos pertinente apenas por já a conhecer. Filmes que me deixaram em silêncio quando acabaram. Filmes em que ri, filmes que me arrancaram lágrimas, filmes que me deixaram tristes por saber que existem pessoas feias por dentro, não apenas ali, no ecrã. Que existem coisas que não são ficção. Mas outros que me lembraram de que o contrário também é verdade e que não devemos deixar de acreditar nisso.

Não sei qual o meu filme, música ou livro favoritos, mas sei que gosto de ouvir histórias de gente real ou imaginária, de conhecer outras vidas, outros pensamentos, outras emoções.

E sei que gosto de me sentar perto da água, a ouvir o seu som por vezes quase suspirado, e que gosto de brincar com ela, senti-la a refrescar-me a pele e os sentidos. Porque nem sempre preciso de histórias, porque nem sempre precisamos responder a perguntas.  Pelo menos a perguntas com uma resposta apenas.


Foto da Web
When someone asks me what’s my favourite movie, music, or book, I can never give an answer. Maybe this is weird, not being able to make this choice. I can answer about my favourite colour, which place I liked to visit the most, where was it that I saw the most beautifull sunset, where do I like to be still with myself, what’s my favourite number…. This maybe be also weird, to know what’s my favourite number….

Of course, there are those music I can hear any place or any moment, oposing those only certain states of the soul call for. There are lyrics which seems to have been written for me, voices my ears pick up further than the tunning  and maybe behond the tone that detaches.

There are books which stories follow me further than the anxious reading, behond the "I’ll just read this one more chapter and I’ll continue tomorrow”. There are books with details that still inhabit my memory, even though I’ve read them a long time ago. Some that I’ve reread, some that I know I will. Some from my childhood memories, books that I sometimes find in a bookstore, who bring me a bit of melancholy, along with the desire of buying it and reread that story I still recall so well. Pages that remind me about how I always liked that ritual. The ritual of turning another sheet, imagining the caracthers, their faces,  the color tone on the places they move on, the sound of their voices.

There are movies I can see again and that particular scene will still stir emotions, in others, that inteligent line is not less pertinent, just because I already know it. Movies that left me in silence when they were finished. Movies that made me laugh, movies that left me sad by knowing that there are people so ugly inside, not just there, in the screen. That there are somethings that are not fiction. But others that remind me that the opposite is also true and that we shoud never stop believing that.

I don’t know what’s my favourite movie, music or book, but I do know I like to listen to stories of real or imaginary people, knowing other lives, other thoughts, other emotions.

And I know I like to seat near the water, listening to the sound of it, it’s sound sometimes almost wispered. I know that I like to play with it, to feel it refreshing my skin and my senses. Because sometimes, I don’t need stories, because sometimes, we don’t need to answer questions. At least not questions with only one answer.

sábado, 24 de março de 2012

Palavras certas / The right words

Foto da web, Dragan Jukic

Abri o livro ao acaso, surgiu-me uma página inesperada. Uma página já saída, não sei se por tantas vezes procurada, não me lembro de a ter lido antes. Parecia que o livro falava comigo.  Dizia-me exactamente o que precisava ouvir.

...-..._...-..._...-...

I opened the book randomly, an unexpected page was showned. A page already coming out, maybe because I'd looked for it so many times, I don't remember having read it before. It told me exactly what I needed to hear.

domingo, 18 de março de 2012

Sentido Proibido / Obrigatório ~*~ Forbiden / Mandatory way

Imagem da Web

Há dias seguia numa das estradas diárias e, de repente, à minha frente: o sentido proibido / obrigatório. No dia seguinte, lá continuava ele. Como de resto sempre esteve. 
Não o tinha ainda realmente visto, limitava-me a seguir as suas indicações.
Com esta imagem a povoar-me a percepção, comecei a ver mais sinais em dupla:

Velocidade máxima / Velocidade mínima
Obrigatório parar / Proibido virar

Não pretendo escrever um manifesto contra as regras, não me interpretem por fora da lei. 
Mas suponho que aperceber-me destas cartilhas em dupla me fez pensar em quanto aprecio o meu espaço para a espontaneidade, de como não poderei nunca abdicar dele. E o meu espaço para escolher o sentido.


 ~*~ ~*~ ~*~ ~*~ ~*~ ~*~ 
Image from the Web


A few days ago, I was on one of the daily roads and, all of the sudden, in front of me: the forbiden / mandatory way. The next day, there it was again. As it's always been. 
I hadn't really seen it, I just followed it's directions.
Still, with this image filling my perception, I started to see more double signs:

Maximmum speed/ Minimum speed
Stop / No turnig

I'm not writing a manifest against rules, don't get me wrong, I'm not an outlaw.
But I supose that realizing this doubled rules made me think about how I like space for spontaneity, how I can never give it away. My space to choose the way.

sábado, 17 de março de 2012

Berço

Berço, Isa Lisboa


Infância
 Sonhos
enormes como cedros
que é preciso
trazer de longe
aos ombros
para achar
no inverno da memória
este rumor
de lume:
o teu perfume,
lenha
da melancolia.
 Carlos de Oliveira, in 'Cantata'
  

terça-feira, 13 de março de 2012

Final de dia / End of the day

Não vou tentar procurar palavras que descrevam as cores do fim do dia, junto ao mar.
A sensação do vento no meu rosto.
A minha vontade de tocar no horizonte, pegar num pouco de tudo e guardá-lo comigo...


~~~~~~~~~~~~~~~~~~


I will not try to find the words to describe the colours of the end of the day, by the sea.
The feeling of the wind in my face.
My will to touch the horizon, take a bit of everything and keep it with me...






segunda-feira, 5 de março de 2012

A reforma admnistrativa e o dilema das pontes / The administrative reform and the bridges dilemma

Pontes?, Foto da Web
Vi ontem uma reportagem sobre a reforma admnistrativa das freguesias em Portugal. O jornalista percorreu algumas das aldeias candidatas a fusões - aldeias ou lugares urbanos, como algumas passarão a designar-se.

A maioria dos habitantes mostrava-se insatisfeita com a possibilidade de deixar de ter a sua freguesia e ser integrada na freguesia vizinha.

Um dos argumentos é que a mudança trará uma diminuição dos fundos alocados pelo município à "nova" freguesia.

Tendo nascido numa aldeia, ouvi várias vezes este argumento, seja por questões de cor política ou apenas por - imagino que seja esta a justificação muitas vezes - questões de (magro) orçamento.


Mas outra questão mais premente se levantou nos testemunhos da maioria dos entrevistados. Questão também habilmente abordada com característico e acutilante humor na rubrica de um conhecido programa de rádio: o bairrismo e a gestão das diferenças culturais que poderão ser obrigadas a conviver administrativamente. Falou-se de identidade, mas nestes relatos ficam muitas vezes subjacentes velhas querelas, talvez daquelas que já ninguém se lembra como tiveram origem. 


E tudo isto para chegar ao dilema das pontes...Lembrei-me dele, ao ouvir estas duas peças dos media... O dilema das pontes, comum a aldeias, cidades, países: de porque é que aperfeiçoámos a forma de construir pontes entre margens e por vezes ainda parece que nos esquecemos de avançar na (re)construção de pontes entre dois Homens, que moram a dois passos...


**-*-**-*-**-*-**-*-**-*-**-*-**



Yesterday I saw a story about the admnistrative reform on portuguese municipalities. The journalist went by some of the villages who are candidates to fusions - villages or urban places, the way some will probably be called. 

Most inhabitants were not satisfeid with the possibility that they're municipality would disapear, and be integrated in the one nextdoor.

One of the arguments is that the change will bring a reduction in the funds allocated by the central services to the "new" municipality.

I was born in a village, so, I've heard this argument several times, being due to political colours or - I image this is the reason most of the times - issues of (shrunken) budget.


But another question, more pressing one, has come out in the testimonies of most respondents.  Question also adresseded with an acute and caractheristic sense of humour in a known radio show: neighbourhood and the managment of cultural differences which may be forced to live side by side, administratively. They spoke of identity, but in these descriptions, many times, the underlying question is old quarrels, maybe the ones nobody remenbers how they started. 


And all this to came to a point: the bridges dilemma... I've remembered about it, earing this two media pieces. The  bridges dilemma, common to villages, cities, countries : about why did we perfect the way to build bridges between river banks... and sometimes it still seems that we've forgotten about (re)building bridges between two Men, who live two steps away...
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Mensagens populares