Começara
com um cheiro pronunciado a fumo e a sensação de que a temperatura aumentara
repentinamente.
Ao
saírem de casa, as gentes aperceberam-se das labaredas que rasgavam caminho
pelo centenário pinhal, ainda ao longe.
Ao
que parecia, já alguém havia chamado os bombeiros, já se ouviam as sirenes
também à distância.
Inicialmente
parecia longe da aldeia, mas agora aproximava-se rapidamente. Demasiado rápido.
O fumo e o calor intensos apenas aumentavam o pânico que começava a propagar-se,
quase tão rápido como as chamas.
A
água caía sobre o fogo, mas não parecia sequer acalmá-lo e a natureza tem
vontade própria o vento levantava-se também.
Os
bombeiros começaram a pedir a todos que saíssem, era já necessário evacuar a
aldeia. Numa das casas, ouviam-se vozes, a voz de alguém que se recusava sair e
a voz de tentativa calma de alguém que lhe explicava que tinha que ser.
De
um ponto mais alto, aldeões evacuados, mirones, olhavam a luta contra o fogo, o
vermelho dos carros de bombeiros a esbater-se contra o amarelo inferno das
chamas, o barulho dos helicópteros como que a fundir-se com o ambiente que se
vivia. A ameaça à subsistência, ao que se construiu, às memórias, o medo de que
possa não vir a restar mais nada.
No
meio dos mirones, alguém segurava algo na palma da mão, algo bem protegido
dentro do bolso. Olhava fascinado o poder do fogo, talvez mais fascinado que os
primeiros homens que o descobriram. Mas sem o medo original.
Para
algumas pessoas, o poder é tudo. É sempre belo. Indepentemente da marca que
deixe.
À
sua volta, todos se interrogam: “Porquê?”
Findo
o rescaldo, o betão ficou miraculosamente intocado. Todos puderam regressar a
suas casas na manhã seguinte. Todos, juntamente com o medo.
O
verde não existia mais, substituído por pedaços de raízes fumegantes, negras,
algumas ainda ligeiramente incandescentes. Talvez tenha sido este cenário que
Dante imaginou.
A pergunta
repete-se na mente de todos: “Porquê?”
Ali
perto, um mirone continua a segurar na palma da mão um pequeno objecto,
protegido dentro do bolso, sob a capa da normalidade.
“Porquê?”
»»»
Infelizmente, este texto é baseado em histórias reais e, tristemente, algumas
tiveram desfechos mais dramáticos.
Heróis
são aqueles que em situações em que o desespero espreita tornam o impossível em possível.
Todos
os Verões, há heróis. Também há vilões.
Fica
um remate de esperança: onde estavam antes raízes fumegantes e negras, vejo
hoje novas árvores. Verdes. Altas. Inspiradoras.
A
vida renova-se.
….
All began with a pronounced smell of smoke
and a sense that the temperature had increased suddenly.
When they went outside, the people noticed the
fire that tore the centennial pine forest, still in the distance.
Apparently, someone had already called the
fire department; they heard the sirens far away.
Initially it seemed far from the village,
but now it was rapidly approaching. Too fast. The intense heat and smoke only increased
the panic that began to spread almost as fast as the flames.
The water fell on the fire, but it seemed it
wasn’t even calming it down, even nature has a will, and the wind got up as
well.
Fire fighters began to ask everyone to
leave, it was becoming necessary to evacuate the village. In one house, there
were the voices, the voice of someone who refused to leave and a voice essaying
calm, this one the voice of someone who tried to explain it had to be so.
From a higher point, evacuated villagers, voyeurs,
all watched the fight against fire, the red of fire engines blurring against
the yellow flames of hell, the noise of helicopters which merged with the environment surrounding. The
threat to survival, to what has been built by them, the memories, the fear that
maybe nothing else will remain.
In the middle of the voyeurs, someone is holding
something in his hand, something well protected inside his pocket. He looked
fascinated about the firepower, perhaps more fascinated that the first men who
discovered it. But without their original fear.
For some people, power is everything. It is
always beautiful. No matter which scars it leaves.
Around him, everyone is asking:
"Why?"
After the fire was put off, the concrete
was miraculously untouched. All were able to return home the next morning. All,
along with fear.
The green was gone, replaced by pieces of smouldering
roots, black, some still glowing slightly. Perhaps this was the scene that
Dante imagined.
The question is repeated in everyone's
mind: "Why?"
Nearby, a voyeur continues to hold a small
object in his hand, protected inside his pocket, under the guise of normalcy.
“Why?”
»» »Unfortunately, this text is based on
true stories and, sadly, some had more dramatic outcomes.
Heroes are those who, in situations of despair,
make the impossible became possible.
Every summer, there are heroes. There are
also villains.
For a closing with hope: where before they
were steaming and black roots, now I see new trees. Green. High. Inspiring.
Life renews itself.
Os incêndios têm sido uma tragédia, ano após ano. E não aparece ninguém competente que saiba traçar um plano e implementá-lo... Mas há muita gente a lucrar com os incêndios...
ResponderEliminarBeijo, querida amiga Isa.
Um texto que é uma espécie de toque a rebate. Oxalá todos o ouçamos.
ResponderEliminarBeijo :)
Todos os anos se repetem (os fogos) mas este, parece que foram em maior quantidade.
ResponderEliminarMuito triste!
Gostei do texto.
um beij
Já temos história nestas tragédias!
ResponderEliminarOfereço um selo, queres?
Beijinho.
Como eu entendo esta mensagem...
ResponderEliminarIsa,
ResponderEliminarAinda há dias pensei: "as temperaturas já estão altas... o ano passado as chamas estiveram tão perto... o quer será este ano?"
Para quem vive rodeado da natureza, que a ama e respeita, não se pode esquecer que há riscos... criados pelos homens...
Beijinhos!
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