Foto: Café Portugal |
Liberdade. Esta palavra
estava aqui a pedir-me caneta.
Pelo dia que é,
certamente. Celebram-se 40 anos desde o dia em que Portugal gritou esta palavra
ao som de “Grândola vila morena” e de “Depois do adeus”.
Nasci 5 anos depois de
Abril e não sei vivê-lo como os militares e os militantes de Abril. Sei Abril
pelos livros de história, documentários e séries históricas que têm feito
presença na TV nos últimos tempos. Sei-o pelo que oiço contar de pessoas que
viveram antes e depois de Abril. Que viveram a face que sempre me custará mais
a compreender: a guerra colonial.
Juntando estes relatos,
vejo pelo menos dois Portugais diferentes: o Portugal rural, onde uma sardinha
era partilhada para dois. E a parte da cabeça, numa sardinha cortada acima do
meio, era para quem a cortava. O Portugal dos homens que partiam, meses a fio,
para trabalhar na capital. Dos meninos que com eles seguiam ainda cedo. Das
meninas que ficavam para os trabalhos no campo, ajudando as esposas que
ficavam.
Do campo que também
conhecia a polícia política, que não queria desagravos com os agentes, a modo
de não ser denunciado por algo que dissera, fosse com ou sem intenção.
E o Portugal das
Universidades e de todos os meios onde a agitação e o inconformismo ia
dormindo. E as prisões políticas, e o exílio. E ao longo de todo este Portugal,
os livros da 1ªa e 4ª classe, ensinando como o Império é grande. Os livros que
se liam debaixo da cruz pendurada na parede de frente para os alunos.
H´á muitas opiniões
sobre Abril, uns acham que Abril se cumpriu, outros que ainda está por cumprir.
Alguns que preferiam o tempo antes de Abril, outros que defendem que estamos
melhor, ainda que o clima actual envolva alguma desilusão.
Eu que não sou filha de
Abril, acho que Abril se cumpriu. Mas agora cabe a este Portugal que somos
cumprir-se.
E, depois de Abril,
sinto-me feliz por poder escrever estas palavras sem lápis azul.